quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Natsu No Niwa Suite

E um dia o Elian trouxe com ele um "cedezinho" pirata.
Estava escrito assim, à mão, com uma letrinha bem feia: "duo assad". Só.
O Elian era o meu amigo violonista naquela época do ensino médio. Um dos poucos amigos. Ano de 2004. E eu já tinha ouvido, em algum lugar, alguma coisa sobre esses tais "assad".
-Ah, legal. Deixa eu pôr aqui - falei, pegando meu discman e me ajeitando no porta-malas do carro, pra mais aquele passeio família + amigos + domingo com sol em algum parque de São Paulo.

Vamos. Estavamos indo.

Play.

E agora, algo mais ia junto.
Aquela música já me conhecia.
Me conhecia e pintava, ou, me fazia enxergar uma aquarela de tudo à minha volta. O azul do céu, o verde das árvores, o amarelo da luz do sol. Cores daquele dia, da bandeira brasileira e, também, da capa do disco, que eu viria a conhecer mais tarde.

Trilha sonora de um filme japonês chamado "Natsu No Niwa" ou, "Summer Garden" pra quem, como eu, não sabe nada de japonês.

Uma trilha de filme, toda com apenas dois violões. Pode imaginar isso? Pois é. E eu, por enquanto, só imagino também, porque ainda não achei o filme. Pra falar a verdade, nem sei se preciso achar.

O Sérgio Assad, é o irmão mais velho do duo. Ele é o compositor e arranjador por trás da sonoridade única do Duo Assad. Único, também, é ele, que reúne em si o melhor compositor e instrumentista possíveis, ou impossíveis. O Odair Assad, para mim, o violonista mais absurdo da atualidade, foi audaz, ou talvez, insano ao ponto de gravar o disco com os dedos indicador e médio fraturados. 

Esse se tornou o disco que mais ouvi na vida, até agora. Sempre volto a ele. Sempre busco a mim mesmo nele. E sempre me encontro, a mim e muito mais. E sempre dá um calor no peito que faz querer continuar procurando.

Nesse disco também estão a estética e o SOM de violão que se tornaram "referência" para mim. Não que eu ache que som de violão tem que ser assim ou ASSADo. Mas, sem dúvida, está nesse disco o som de violão que me marcou, me encantou, se impregnou em mim - na minha cabeça, no meu coração, e também nos meus humildes dedos lutadores.

E aí vai o link para baixar, ouvir e entender que o original merece ser comprado custe o que custar:


terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma crônica do Vinícius


Uma mulher chamada guitarra

“Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.

0 violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina — viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo — o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada.
Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.

Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar, preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em benefício de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.
Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.
Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado — contra o peito — lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei; um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.” – Vinícius de Moraes

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Na Caixa de Música

Com a Glauce, ao final da transmissão do "Caixa de Música" exibido ao vivo em 11 de fevereiro de 2010 pela TV Novo Tempo.


Pra começar, o nome: Caixa de Música. Ótimo nome pra um programa de TV sobre música! Claro que nada é perfeito e muita gente diz "caixinha de música" em vez de Caixa. Como dizem, não importa tanto. Importa mais é que assistam e curtam. Que curtam as músicas boas que passam lá e a Glauce, que faz a gente se sentir à vontade!
Foi demais estar lá! Foi desafiador também porque, tocar violão ao vivo pra câmeras que vão te mostrar pro "mundo inteiro", não acontece todo dia.
Idéia e iniciativa do Edson Nunes (sujeito de muitas idéias e iniciativas), sob concessão da Glauce, participar do programa foi uma oportunidade de eu mostrar um pouco da minha música. A música que faço com as melodias que ouço desde feto (os hinos cantados na igreja). Música feita entre mim e D-s e as outras pessoas, os próximos.
Obrigado Edson, Glauce, Novo Tempo... espero produzir música que faça bem, cada vez mais!