domingo, 31 de maio de 2009

Os 7 estudos para violão de Carlos Alberto Pinto Fonseca


Dezembro de 2007, nos estúdios da Rádio Cultura FM de São Paulo.
Eu com o técnico de montagem, Gláucia Molina e Fábio Zanon.

Nesse momento, tínhamos acabado a montagem do programa Nº109 da série "O Violão Brasileiro" no semanal "Violão, com Fábio Zanon", transmitido entre Janeiro de 2006 e Maio de 2009 pela Rádio Cultura FM de São Paulo.
Nessa época, o programa apresentava compositores brasileiros. Alguns deles, totalmente desconhecidos dos violonistas.
Esse era o caso do mineiro de Belo Horizonte, Carlos Alberto Pinto Fonseca.
Seu nome vem sempre associado à música coral. Foi maestro e diretor do Coral Ars Nova por cerca de 40 anos e professor na Universidade Federal de Minas Gerais.
Sob sua direção o Coral Ars Nova chegou ao topo do que se realizou em música coral no Brasil, sendo um dos poucos coros brasileiros com relevância internacional.
Assim, como compositor, a maior parte do que escreveu é música vocal. Sua obra prima é a "Missa afro-brasileira", que consolida o caráter sincrético de suas composições, sendo que, como mineiro tradicionalmente católico, durante o período em que viveu na Bahia, apaixonou-se pela música negra.
Sua obra tem certo nacionalismo incutido a despeito de ter sido aluno de Koellreutter, contrário às tendências da geração de compositores anterior.
Os "7 Estudos para Violão Solo" foram escritos em 1972, dedicados a Carlos Barbosa Lima, um violonista brasileiro de virtuosismo e energia marcantes. Apesar disso, em sua maioria esses estudos são serenos e introspectivos. O primeiro alterna trechos conduzidos por melodias sinuosas e cantantes com momentos de vivacidade sincopada. O segundo faz alusão ao cromatismo sacro de César Frank por meio de uma figuração simples arpejada. O terceiro é uma homenagem a Villa-Lobos que explicita o caráter nacional deste ciclo de estudos. No quarto há um sentimento sacro e mineiro, homenagem a Bach... um tanto "viola caipira temperada". O quinto estudo surpreende com um rítmo nordestino numa harmonia chocante formada por quartas. Quartas estas, provenientes dos acordes de pestana no violão. O sexto é o ponto culminante do adensamento rítmico ao longo do ciclo. Também baseado num rítmo nordestino, esse estudo é seguido por um mais ameno, o sétimo, de caráter mais resignado, que fecha o ciclo falando de forma íntima ao ouvinte.

Gravar estes estudos foi um processo exigente e envolvente. Uma gravação de estréia, que julgo ser bastante importante para a música brasileira. Grande privilégio para mim ser o primeiro violonista a gravar 4 destes estudos. Outros três foram gravados por André Piredols, também a pedido do Fábio Zanon.
Contribuir com o programa do Fábio e com a Fundação Padre Anchieta, que faz parte da minha vida desde cedo com a TV, a Rádio e tudo mais... isso tudo foi inesquecível.

O programa radiofônico, que contém as gravações e foi fonte de informações para este texto, está disponível no BLOG "Violão com Fábio Zanon".

Fica aqui a minha sugestão aos músicos e, principalmente, aos colegas violonistas para que conheçam essa obra e seu compositor.